A
aula corre normal e entediante para Max. O mesmo não pode ser dito do intervalo.
Estava
ele sentado tranquilamente na companhia de seu tablet na arquibancada ginásio
de esportes do colégio. Sempre gostou muito de tecnologia e é algo que lhe parece
sempre muito simples e muito fácil de entender. É seu refugio nesta maratona de
escola em escola, cidade em cidade, juntamente com sua irmã e seu pai. Seu
principal passatempo é invadir sistemas seguros ou, chamados de seguros já que
se fossem seguros de verdade ninguém invadiria. Não tem nenhum motivo prático
em sua invasão, como roubar ou danificar alguma coisa, a única coisa que
procura é o inebriante prazer de conseguir.
Seu
passatempo com o tablet, no entanto, é interrompido e o site da empresa vítima respira
com certo alivio por ganhar um pouco mais de tempo. O motivo da interrupção é
um, já conhecido de Max. Um ato totalmente covarde.
A
alguns metros de onde está sentado, um grupo de três garotos, um deles de sua classe,
perturbam outro menino, também de sua turma. Nitidamente o infeliz está
sofrendo bulling. O que Max acha mais bizarro na cena é que o menino que está sendo
humilhado é muito maior e mais forte que os outros três. O garoto é
afrodescendente, tipo jogador da MBA. Deve ter perto de um metro e noventa de
altura e não é vareta, ao contrário, é muito forte.
No
entanto, contrariando o senso comum, o grandalhão não reage à agressão.
Todas
estas andanças com seu pai fizeram com que Max sofresse bulling como novato nas
primeiras escolas em que estudou, nas primeiras cidades onde moraram, até que,
decidiu que reagiria, mesmo tendo um porte de “chassi de grilo” e sendo
baixinho.
Começou
a praticar algumas artes marciais nas quais aprendeu alguns golpes que se
mostraram bastante úteis, apesar de ter sempre que abandonar as aulas, pois
estão constantemente de mudança. O que sua experiência lhe ensinou é que os
covardes parecem farejar o medo e se aproveitam dos que nutrem este sentimento.
Na
tentativa de livrar-se de seu medo, Max optou seguir pelo caminho mais difícil,
mas certamente o único: enfrentá-lo.
No
começo apanhou muito. Seu rosto normalmente parecia com o de um pugilista
saindo do último assalto de uma luta violenta. Chegou ao ponto de não mais
lembrar de sua aparência normal sem o inchaço e os roxos, porém descobriu que a
dor da surra é muito menor que a dor de ser constantemente humilhado. Com o
tempo, parou de apanhar. Com o tempo, aprendeu a se defender.
Ficou
imaginando se tivesse o porte físico daquele garoto que está sofrendo bulling,
certamente teria apanhado menos ou nem teria apanhado.
Outra
coisa que aprendeu de todas estas mudanças de escola é não se meter com brigas
de alunos que não conhece, afinal, nunca se sabe quem tem razão. Decidiu que o
melhor a fazer neste caso era concentrar-se em seu tablet e não dar bola para o
que estava acontecendo.
Infelizmente,
por mais que utilizasse de toda sua vontade para não se meter, não conseguiu.
Dedadas
em seu tablet e uma olhada no grupo, dedadas no seu tablet e uma olhada no
grupo... não conseguia parar de olhar naquela absurda cena de covardia. A gota
de água foi quando um dos garotos, um ruivo que está em sua classe, dá um tapa
no rosto do menino grandalhão. O sangue de Max sobe e ele larga seu tablet e
corre furioso em direção ao grupo.
-
Parem com isso! – Grita ao chegar próximo o suficiente – Deixem-no em paz!
- Olha
quem resolveu falar?!? – Zomba o ruivo indo com o peito estufado, praticamente
um pombo, em direção a Max, que percebe desanimado, que o ruivo também é maior
que ele. Parando a sua frente o ruivo completa com o dedo indicador apontado
para o nariz de Max – Quer um conselho novato – daria o conselho mesmo que Max
não o quisesse -, não se meta com o que não é de sua conta!
-
Você não sabe com quem está se metendo! – Completa prontamente outro garoto dos
três que estão agredindo o garoto grandalhão, este com cabelos loiros e lisos,
praticamente o príncipe encantado dos contos de fada e ainda mais alto que o
ruivo. ‘Será que só tem gigante nesta cidade?’ Pensa Max um tanto quanto
desconsertado.
- É
– fala o terceiro garoto do grupo, motivado pelos outros dois. Este com cabelo castanho
claro e enroladinho e este sim, um pouco mais baixo que Max que passa a se achar
o tal olhando com desdém para o baixinho que, como se ensaiado completa o que
os outros falaram -, nós mandamos nesta cidade!
-
Isso é o que vocês pensam seus idiotas! – Fala uma voz surgindo do nada atrás
de Max, que se vira imediatamente e vê uma menina com uniforme surrado e cabelos
desgrenhados, parada com as mãos na cintura e pose ameaçadora.
-
Cala a boca Anne! – Ordena o ruivo – Vai pentear este cabelo! – Seus amigos,
como bons puxa-saco, riem.
-
Cuidado Bruce – fala o loiro amedrontado -, a mãe dela é uma bruxa. Meu pai
falou que ela enfeitiçou nossas vacas e está roubando nosso leite!
-
Bobagem Michael! – Responde Bruce com a propriedade que seus treze anos podem
lhe proporcionar – Isso não existe!
-
Então – questiona Michael -, como a mãe dela vende queijo se elas não têm vaca?
– Bruce perde a pose e fica olhando com cara de “não sei” para Michael.
- Se
vocês não forem embora agora – grita Anne com raiva apontando o dedo para o
grupo -, vou transformá-los em sapos verruguentos!
Os
três garotos, tentando não demonstrar medo, mas, nitidamente apavorados se entreolham
e saem apressadamente em descompasso, quase se chocando entre si e sumindo na
multidão de alunos.
-
Você está bem? – Pergunta Max ao garoto gigante que estava sofrendo bulling.
-
Você tem que se defender Bentinho! – Fala Anne aproximando-se dos dois e dando
um pequeno soco no braço do garoto grandalhão – Olha o seu tamanho... bateria
fácil no três!
‘Bentinho?’
Fica se perguntando Max. ‘Como Bentinho com este tamanho todo, será que estou
em Itu e não sei? Certamente não quero conhecer o Bentão!’. Mas Bentão não é
tão grande. É o pai de Bentinho e se chama José Bento King, mesmo nome de
Bentinho que possui ainda um ‘Junior’ no final e, por isso mesmo, é chamado de
Bentinho e seu pai, apesar de hoje ser menor que ele em estatura, é chamado de
Bentão.
-
Não posso! – Justifica Bentinho com uma voz tranquila e macia que contradiz com
seu tamanho – Será melhor para mim e para minha família... deixa eles, eu não
ligo!
Sua
conversa é interrompida por uma garota alta e magra, com maquiagem escuta, roupas
de couro preto e um sobretudo igualmente preto, que chega ao grupo sem
cerimônias e fala:
- Max
– chama sua irmã Luca -, não tenho as últimas aulas e vou embora. Quer que
venha lhe buscar?
- Claro
que não! – Responde Max irritado – Sabe que vou de skate!
-
Então tchau maninho...
Ela
vira-se nos calcanhares e sai com seu andar firme e sensual em direção ao
estacionamento onde veste seu capacete, também preto e decorado com símbolos
Wicca, e sobe em sua motoneta elétrica, saindo de forma que seu sobretudo
torna-se esvoaçante.
Todos
ficam boquiabertos com aquela garota diferente de todas as outras que moram em Avalon.
Os garotos estufam o peito e endireitam as costas de forma a exibir seus dotes
físicos, mesmo que não os tenham. Alguns que estão com a namorada soltam um
grito graças ao beliscão que levam por olhar o que não deve. Muitas das garotas
cochicham entre si ou olham com cara de desdém. Luca realmente sabe chamar
atenção.
Para
um dos observadores, no entanto, a impressão foi maior ainda.
- Ela
é um anjo? – Pergunta Bentinho nitidamente babando em seu uniforme escolar.
-
Não! – Responde Max contrariado – É apenas minha irmã!
A
atenção do momento é então novamente interrompida, desta vez por uma amiga de
Anne que chega correndo ao grupo, bastante apavorada. Parando subitamente sem
perceber que o garoto novato da escola está com eles, e fala:
-
Souberam o que aconteceu? – Pergunta ela que só então se dá conta de Max,
ficando nitidamente envergonhada e sem jeito, com o rosto vermelho. Na verdade,
toda sua cabeça fica vermelha já que é uma garota bem loirinha com pele bem
branca. Percebendo que sua amiga viera contar alguma novidade e, com a
curiosidade feminina aflorando, Anne pergunta:
-
Aconteceu alguma coisa July?
- Sim
aconteceu! – Responde à loirinha encabulada - Algo terrível. Vocês não
souberam?